permanência
Pediu um café, cruzou as pernas ajeitando com um toque de timidez a saia e de seguida tirou da mala um cigarro. Acendeu em câmara lenta a chama de uma vida. O café chegou. O empregado balbuciou qualquer palavreado de que não obteve resposta. E ela continuou ali saboreando a amargues, não só da vida mas também do cigarro, que ficou esquecido no cinzeiro de prata. Mexeu o café ora para esquerda, ora para a direita. Passou a colher pelos lábios (agora) sem cor e voltou a colocar perto da chávena. Parecia ter paralisado o olhar em direcção ao infinito. Gente saiu, gente entrou, o café arrefeceu, o cigarro ficou reduzido a pura cinza e o seu olhar cedeu uma lágrima. Apenas uma.